Latvian riflemen – Texto sobre os Fuzileiros da Letônia em português

Para quem gosta de História e de conhecer fatos da I Guerra Mundial! O Skyforger participou no último sábado, 01 de agosto, do evento em honra aos 100 anos da formação dos Fuzileiros da Letônia (Latviešu strēlnieki/Latvian Riflemen), que lutaram na I Guerra. No texto abaixo que organizei, você encontra informações sobre a importância desses soldados que inspiraram a criação do álbum Latviešu strēlnieki, lançado em 2000.

– Maria Fernanda

Riflemen in portugese

Inicialmente os fuzileiros letões lutavam nas brigadas russas, mas a vitória na batalha travada nas colinas de Rune, perto de Jelgava, Letônia, em 2 e 3 de maio de 1915 – quando conseguiram a proeza de frear o avanço dos alemães, que estavam em maiores números e se dirigiam a Riga –, inspirou uma onda de patriotismo nos cidadãos e soldados. Foi protocolado, então, no dia 10 de junho, um pedido de permissão para o Grão-Duque Nikolay Nikolayevich para formação de unidades formadas somente por soldados letões. Já que o território da Letônia (que ainda não era um país formado), e do Báltico como um todo, sofria grande perigo de invasão, o comando do Exército Russo aceitou a proposta.

No dia 1º de agosto, o General Mikhail Alexeyev, comandante do front Noroeste, ordenou, a formação inicial de dois batalhões de fuzileiros voluntários: 1º Batalhão de Daugavgriva e 2º Batalhão de Riga. As tropas letãs tiveram que jurar fidelidade ao Czar. Foi-lhes foi prometido que teriam os mesmos privilégios comuns dos outros soldados do Império. Os batalhões seriam efetivos somente durante a guerra.

Homens entre 17 e 35 podiam se alistar voluntariamente. Os cidadãos aderiram à campanha com entusiasmo. Entre 1915 e 1916, 8.000 voluntários ingressaram nos batalhões, estimulados pelo patriotismo e pela falta de comida e pobreza causada pela invasão alemã. Mais tarde, até mesmo lituanos e estonianos também ingressaram.

Os primeiros comandantes dos batalhões foram Rudolfs Bangerskis, Frīdrihs Briedis e Ludvigs Bolsteins. Mesmo depois de formadas, as tropas ainda faziam parte do Exército Imperial. A partir de 1916 passou a haver recrutamento. Cerca de 40.000 soldados foram convocados para a Divisão de Fuzileiros da Letônia.

Os soldados enfrentavam os problemas da falta de suprimento e desorganização do Exército russo. As primeiras baixas vieram junto com os primeiros triunfos. O general búlgaro Radko Dimitrev era o comandante do front de Riga. Seus planos e ações se mostraram ineficazes, o que causou muitas mortes. O Batalhão de Daugavgriva foi, então, enviado para segurar o avanço dos alemães no dia 25 de outubro.

Em uma noite fria e de chuva, enquanto os alemães bombardeavam as pontes e estradas de ferro, dois comandos de um dos batalhões foram para o front. Sem dormir ou comer por mais de um dia, os soldados cruzaram com dificuldade o pântano Tirelis com água acima dos joelhos. Eles conseguiram repelir e derrotar quatro comandos da Landsturm alemã. Três fuzileiros morreram. Dias depois, dois comandos do Coronel Briedis atacaram os – mais armados e muito maiores – batalhões alemães e pararam sua ofensiva. Entre o final de 1915 e início de 1916, mais quatro batalhões de Fuzileiros da Letônia foram formados e mandados para a Guerra. Havia de 10.000 a 12.000 fuzileiros letões nas linhas de frente.

Muitas vidas foram perdidas devido à ineficiência dos comandantes do Exército Russo. Os comandantes letões não tinham opções a não ser obedecer aos superiores russos, mesmo sabendo que as ordens causassem morte certa aos soldados.

A crise aumentou com a Ofensiva de Julho. Um grande ataque dos alemães causou a morte de 45.000 soldados, 7.500 destes letões. A ofensiva russa foi um desastre. Os fuzileiros letões, porém, ganharam muito reconhecimento depois disso por continuarem lutando quando outros batalhões desistiam. Os jornais russos dedicaram muitos editoriais positivos nos jornais a respeito dos Fuzileiros letões, o que despertou grande interesse e o respeito dos Aliados.

A batalha da Ilha da Morte (Naves Sala) é a que melhor representa o importante papel dos Fuzileiros da Letônia. Localizada perto de Ogre e Sloka, a ilha era na verdade uma fortificação de dois quilômetros quadrados que estava bloqueada por alemães em três lados e pelo rio Daugava. O local ganhou esse nome sinistro por causa das batalhas sangrentas que ocorreram ali. Em fevereiro de 1916, o 3º Batalhão de Kurzeme foi enviado para uma área de Ogre, perto da localização da Ilha da Morte. Em março, a artilharia alemã começou ataque pesado. Os russos não disponibilizaram infantaria e artilharia suficiente para defender a área. O 3º Batalhão sofreu muito. Os homens estavam separados das forças russas pelo rio e não tinham como receber mais reforços e suprimentos. Os Fuzileiros dormiam em trincheiras inundadas pela água da chuva.

Em outubro, um dos maiores batalhões russos, que estava na Ilha da Morte, foi exterminado por um ataque com gás. Não havia máscaras de proteção; elas haviam sido levadas para outro local pelas tropas que partiram. O gás se espalhou para o outro lado do rio matando outras tropas também. O 2º Batalhão de Riga foi obrigado a avançar, mas o comandante capitão Klaviņš se recusou a obedecer enquanto suas tropas não recebessem máscaras. O comando depois descobriu que havia 40.000 máscaras guardadas em um armazém militar enquanto os soldados estavam morrendo.

Quando avançaram, foram informados que 2.000 homens já haviam morrido por causa do gás e muitos outros estavam para morrer. Os que sobraram tentavam segurar a ofensiva. Os soldados letões tinham dificuldade de respirar com as máscaras. Muitos as tiravam e atiravam longe, desesperados por não conseguirem respirar, escolhendo a lenta morte por envenenamento a por asfixia.

No dia seginte, uma visão aterradora: os soldados envenenados que gritavam e gemiam durante a noite estavam mortos, petrificados e com expressões horríveis no rosto. Pelo vidro das máscaras eles viram que tudo ao redor estava morto: grama, árvores, pássaros, ratos. Tudo estava coberto com uma película verde. Havia espuma ao redor das bocas dos mortos. Os alemães pararam de atacar quando também viram o que fizeram. 4.470 soldados russos morreram. O batalhão de Riga perdeu 20 homens. 120 estavam feridos. Três batalhões permaneceram defendendo a Ilha da Morte.

No Natal de 1916, o general russo Dimitriev ordenou o avanço das tropas letãs contra uma série de trincheiras e defesas alemãs. Depois que as brigadas tomassem o território, o resto do exército russo entraria na batalha. Mas a ajuda dos russos não veio, e os letões aguentaram um pesado contra-ataque alemão por 48 horas, enquanto isso, o exército russo se recusava a lutar por causa das baixas temperaturas (por volta de -25ºC). Em 1917, o Império Russo foi derrubado pela revolução soviética, e então as tropas letãs já mobilizadas agora estavam lutando pela sua própria terra. Assim começou a guerra da independência da Letônia (1918 – 1920).

É bom lembrar que quando os voluntários se alistaram, a maioria achava que o conflito iria durar pouco e que a vitória seria fácil. Eles não sabiam o que viria pela frente. Mais tarde, quando eles perceberam o quão ineficiente e desorganizado era o Exército Russo e que estavam sendo usados como bucha de canhão, muitos fuzileiros se tornaram bolcheviques e passaram a apoiar a Revolução Vermelha para protestar contra o cruel regime czarista. Quando o também vil regime soviético substituiu o outro, já era tarde demais para se arrepender. Saíram da panela para o fogo. Um exemplo é o do Coronel Jukums Vācietis, que chegou a se tornar comandante do Exército Vermelho e foi mais tarde fuzilado injustamente no Grande Expurgo de Stálin, como aconteceu com muitas pessoas honestas e dedicadas.

Pesquisa e edição por Maria Gottardi